Assunção de Maria | Lope de Vega
que Cristo, em honra do povo,
translada à casa do céu
Hoje o palácio real
só por Deus habitado,
sobe à sua pátria imortal,
ao império o animado,
e o terreno ao celestial;
hoje a casa em que vivia
a eterna sabedoria,
hoje a soberana aurora
a lua pisa, o sol doura,
hoje sobe ao céu Maria.
Sobem as colunas graves
daquela sempre bendita
casa, e as celestes aves
ao Fênix que ressuscita
dizem com vozes suaves:
Como sobe em mortal véu,
ou quem a conduz ao céu?
A terra pode subir?
Mas bem pode dizer
que Cristo em honra do solo.
Vosso privilégio passa,
casa ilustre, da lei
comum, porque foste casa
do Rei, nem pagara o Rei
tal casa com mão escassa.
Levantai para o céu o voo,
casa formosa, honrai o povo;
de Deus o fostes, e Deus,
por não estar nele sem vós,
translada a casa ao céu.
Suba para que o prémio lhe deem,
que tão alta glória encerra;
suba o breve céu, em quem
achou Deus casa na terra,
onde coube tão bem;
suba com justa alegria,
que não é bem, pois que Maria
foi Deus céu no povo,
que se torne em terra o céu,
onde na terra vivia.
Lope de Vega (séculos XVI-XVII). Romancero espiritual. Glosas difíciles VII.
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